18 minutos.

Era 3 da manhã na Rua Augusta.

- Cara, você tem um cigarro?
- Tenho um sobrando, sim. Pega aí.

Sentamos na beira da calçada com os cotovelos apoiados nos joelhos.

- Você sabia que cada cigarro que você fuma são 3 minutos de vida a menos?
- Sério?
- Sério.

Mais uma tragada. Nossas fumaças fundiam-se, sinuosas, no céu excepcionalmente estrelado daquela madrugada fria.

- Já fumei 6 cigarros hoje, 18 minutos a menos.
- Eu, 15.
- Cigarros ou minutos?
- Minutos.
- Ah. Meu, o que você faz em 18 minutos? Sei lá, dá pra viver o que com esse tempo?
- 18 minutos é o tempo de comer um misto quente e morrer vendo tevê.

(Risadas)

- E se em 18 minutos você pudesse mudar a vida de alguém?
- Se você pudesse morrer tomando chuva do alto do Copan...
- Se você pudesse se desprender dele.
- Seria tudo diferente.
- Tudo.

Eu já não ouvia os gritos vindos do Vitrine. A minha alma estava em outro plano; ascendi.

- Você ainda não esqueceu o Gustavo, né?
- Eu tentei.
- Mas ele não vai embora?
- Ele não vai embora.
- E se você tivesse 18 minutos com ele, quê que você faria, Kinho?
- Acho que eu só ficaria encarando os olhos castanhos dele. Morrer afogado nas lembranças surgindo daquela íris dolorosa.

(Silêncio)

- Cê tá chapado?
- Eu tô pensativo.
- Eu também ando assim.
- Henrique?
- Ele também não vai embora.
- E se você tivesse 18 minutos?
- Eu fumei menos.
- Não importa, finge.
- Eu fumaria junto com ele. E não pararia de fumar.

Choveu.

- Pra acabar logo com tudo isso?
- Pra saber o que ele faria com os 18 minutos dele.

Não dissemos palavra alguma, apenas uma troca de olhares. Nós dois nos entendemos porque nós dois sentíamos o mesmo. Éramos duas pequenas almas em ascensão.

- Vamo comprar mais cigarro, Ga?
- Claro.

As franjas ensopadas caíam em nossas testas.

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