Balança.

Para P.H., com dor e amor.

Metade de mim quer ir embora, precisa
A outra amargura na espera que você volte e diga "vamos tentar, eu fiz a coisa errada"
Até que ponto vale a pena esperar?
Se dar?
Desgastar?
O Deus sabe.
Eu disse que não desistiria de nós e esperaria que você descobrisse o mundo
Se descobrisse.
Mas agora não sei o que fazer
Devo fumar outro cigarro?
Tento viver procurando seu conforto em outros braços?
Em outros sonhos?
Outras mentiras?
Novos sorrisos?
Outras camas?
Não sei mais até onde ir
Estou desnorteado, não sei pra onde caminhar
Ou para quem.
No fundo da minha cabeça, no sal de minhas lágrimas, no azedume de minhas noites e nas gotas do meu álcool
Eu sei que não vou desistir
De nós
De você.

Café frio.

É primavera, mas um inverno instalou-se de repente em minha alma.
Tudo acabou. Outra vez.
Derramei uma dúzia de lágrimas, as enxuguei e prometi a mim mesmo que seriam as últimas.
Não vale a pena.
Procurei músicas que me remetiam à você e tentei lembrar de todos os nossos momentos juntos. Chorei um pouco mais, engoli, constatei, amadureci.
Sei que somos duas autoestradas que se cruzaram e agora seguem em direções opostas, mas espero que lá na frente você se lembre de mim e diga a si mesmo que fez a escolha certa.
Porque eu também fiz a minha - e dessa eu não tenho medo de arrependimentos.
Eu vou viver.
Eu nasci para ser do mundo.
Eu nasci para ser meu.

Ressonância.

Teço palavras e construo sonhos ao nosso redor
Sob toques, conectamos nossos corpos como num emaranhado de fios e nos fazemos um só
Seu peito quente recebe gentilmente os toques de meus dedos
Nos fazemos presentes no sentir
Seu hálito, seu cheiro veranil e seus pés roçando nos meus
Cada único átomo de meu corpo vibra ao som de suas palavras
O toque de suas mãos me inunda de um frescor juvenil e de uma ansiedade febril
Torno-me inconsequente quando me tocas a nuca
Faço-me presente no toque e na ausência de vocábulos
E quando nos tornamos uníssonos, incendiamos num arder sufocante
Entre ardores e arderes, torno-me teu e te tornas meu.

Revés.

Eu sou a flor mais linda nascida entre aridez e morte para você pisar.
Aquele momento anterior à chuva, onde o céu brilha seu mais puro laranja antes de virar breu.
Ou, pelo menos, eu era.
Você veio como aquele tiro no peito de uma criança inocente.
Como a mais cruel maré que inunda, destroi e afoga.
Me desfaço perto de você. Todo meu grito, minha lágrima, meu ódio e meu amor parecem inócuos à suas fundações de pedra, às suas raízes viris e seus tormentos que me encantam. É tão fácil me deixar ludibriar por você, como se quando estivéssemos frente a frente eu perdesse minhas cores, você sugasse toda a vitalidade em minha tez.
E cada vez mais eu tenho a certeza de que adoro ser destruído.

Passa.

Tudo passa
O riso acaba
O verme come
O brilho cessa

Tudo acaba
As rugas chegam
As ruas findam
As mães se vão

Tudo morre
A luz se apaga
A mão que afaga
A lágrima confessa

Tudo termina
Os planos adolescentes
Os ardores no peito
Os amores de verão.

Desamor.

Esse gosto de desafeto
Essa cólica, essa cólera
Essa ânsia, essa dor
Esse desamor no ar
Dilacerando meu corpo milimetricamente
Escarrando nesse coração
Versos de Buarque e poesia romântica
Perderam a validade
Nunca foram imortais
São só palavras arranjadas tendenciosamente
Feitas para almas pobres e seres carentes de luz
O amor é só um vocábulo para um sentimento ideal que o homem tenta atingir
Mas em todas as tentativas de alcançá-lo
Acaba por fracassar
Esse é o maior fracasso do homem
Pois tentar amar
Logo ele, ser dotado de si mesmo
Que mordeu a maçã para glória própria
Dentre todos os animais
Somos os menos capazes de
Simplesmente
Amar.

Éphémère.

Esse é para todas as pessoas que foram embora
Por todos os beijos tomados que deixaram minha boca em pura sede de mais
Esse é para todos que foram deixados vazios
Na ânsia por um instante duradouro
Por todos os momentos que se esvaneceram em névoa
Que nos fizeram questionar se algum dia existiram de fato
Por todos os rostos que foram embora e deixaram nada mais que afeição e simpatia
Pela curiosidade em imaginar uma vida inteira pelo simples sorriso dado à luz do anoitecer
Por todos que foram embora e levaram consigo um pedaço de mim
E de quem nem ao menos da voz eu consigo lembrar
Por cada palavra dita e depois silenciada, por cada beijo dado seguido de um adeus
Esse é para todos que algum dia viveram uma paixão efêmera como o piscar dos olhos
E para todos que já quiseram selar um momento, serrá-lo e guardá-lo num envelope dentro de uma caixa
Pelo simples prazer de ter ao seu alcance a eternização de uma felicidade passageira
Esse é para todos os corações que vivem de momentos e estão sempre à espera de um continuar.

Sobre medos e amores.

Coloquei pra tocar um disco de músicas que falavam sobre despedidas que duram para sempre. Despedidas infindáveis, como um ciclo. Nada tinha me doído tanto na vida quanto o toque daquele piano.
Era como se meu coração tivesse sendo lentamente esmagado por mãos tão fortes que não me permitissem gritar - ou como se eu mesmo tivesse me permitido a sofrer calado.
Deito aqui nesse chão, entre cigarros apagados por lágrimas e restos de fotografias que ainda insistem em exibir sorrisos amarelados, manchados pelo tempo.
Nós fomos manchados pelo tempo e o que parecia ser amor, provou ser alguma sensação tão próxima que nos fizesse acreditar que éramos infindáveis.
Choro e outra vez me sinto ridículo por isso. Finalmente percebi que por mais doce que as borboletas sejam, não há como se livrar desse gosto de café gelado e amargo que é ter me livrado de você. É minha vez de ir embora.
Ironicamente, o dia que eu mais esperei em toda a minha vida desde que eu te conheci acabou por ser o dia mais dolorido de todos. Sinto como se eu tivesse morrido e, como se fosse criança de novo, esteja descobrindo quem sou.
Minha única vontade era sentar no alto de uma pedra com vista para o mar num daqueles dias chuvosos e ver a água turva quebrando contra a costa. Talvez se você me desse a mão, poderíamos pular e afundar em toda aquela imensidão de raiva, solidão e angústia. Finalmente percebi que esse é o momento que deixamos de pertencer um ao outro.
Eu nunca mais terei o direito de te amar - ou talvez eu te ame pra sempre dentro de um oceano raivoso, frio e confuso.
Pianos e violinos tocam as últimas notas da nossa história - uma trilha sonora de morte.
Meu coração é mar agitado quebrando contra a costa e nosso amor é turvo.

O que as águas me deram.

Teu amor foi escarro
De uma terra já não mais fértil
Meu coração, o murmúrio
De uma vida que padece

Deito-me sobre o leito de um rio qualquer
Meu leito de morte
Mas não desisto: me entrego
Rendo-me aos machucados
                 [que sujaram minh'alma de sangue e lágrima

Busco algum tipo de redenção tardia
Uma lavagem das ataduras 
                 [que me prendem a um passado infrutífero
De um amor efêmero e inóspito
E torno-me então, da mesma forma, hostil.

Grito atroz.

Trovoadas tremendas estraçalham meu coração
Tormentas terríveis trazem toda essa escuridão

Minh'alma desanda devagar diante de vós
Meu corpo cansado se entrega e se rende atroz

Risos de outrora se findam se fazem em breu
Raios de vida esvanecem se perdem no peito
                           [que um dia já foi luz, calor e verão, mas morreu.

Um apelo pela insanidade.

Gosto dos loucos, aqueles com jeito meio acabado, seguindo uma vida meio boêmia que me remete aos anos de juventude dos meus pais e dos meus ídolos.
Eu queria mais Chicos e mais Caetanos e mais Noeis; os homens de hoje cansam, as atitudes me enojam - tão programadas e comuns.
Nada de terno, gravata e whisky; nem roupinha descolada, atitude rockstar e caipirinha. Eu gosto é de chinelo havaianas e uma boa breja num boteco de esquina - assim, bem tranquilo.
Quero mais homens que vivam sua liberdade, por favor. Homem que sabe o que quer, homem que sabe o que é.
Uma loucura nunca é demais.

Sobre gritos abafados.

Sempre anoto coisas numa folha de papel e guardo dentro de livros - geralmente escrevo sobre como eu estou me sentindo ou sobre como alguma memória trazida pelo livro em questão está me afetando.
As folhas de papel dentro do livros são meus gritos contidos.

Clichê.

Você já percebeu que, apesar de únicos, somos todos meros clichês perambulando por aí?
É curioso como meus desejos, a medida que fui crescendo, foram se inclinando para o senso comum: fazer uma faculdade, ter um trabalho, encontrar alguém e construir uma família - onde eu sei que cada humanozinho seguirá o mesmo rumo over and over again.

Divagações de fim de ano.

Somos quatro
E entre tragos, bebidas e risos
O (maldito) sentir vem para me lembrar que quando anoitece
Sou só eu.

Você.

Te quero
Aqui e agora
Deslizando sob minha pele
Me tocando com voracidade
Me desejando a cada suspiro

Te quero
Nu e desprotegido
Vulnerável em cada pulsar
Voraz em cada olhar
E sutil.

Te quero
Aqui e agora
Reparando todo o desejo
Com qual fui deixado
A espera de algo para sentir
De uma justificativa para continuar
Nessa ânsia por te ter entre meus dedos

Eu te quero comigo.
Aqui. E agora.

Inconstância.

Num primeiro momento
Fluí - sem medo - por seu corpo
Como se antes já não tivesse me perdido em toda sua obscuridade juvenil.
No seguinte momento
Caio - de sopetão - em suas lembranças
Como se a recordação fosse o elu erudito e maldito daquilo que não (h)ouve.
E aí então, como um cigarro no fim
Como uma sujeira no dentes tortos
Você, sutil, me detecta e me infecta novamente me tornando na sua boca farta
Fluo, caio, me infecto.
E corro; contra o tempo, contra o estrago, em busca de uma redenção tardia, de uma desculpa não dita, de um olhar que se perdeu;
E que constantemente se acha
Mas inconstantemente perde-se novamente.

Texto escrito em conjunto com Ga, Diogo e Mari.