Revés.

Eu sou a flor mais linda nascida entre aridez e morte para você pisar.
Aquele momento anterior à chuva, onde o céu brilha seu mais puro laranja antes de virar breu.
Ou, pelo menos, eu era.
Você veio como aquele tiro no peito de uma criança inocente.
Como a mais cruel maré que inunda, destroi e afoga.
Me desfaço perto de você. Todo meu grito, minha lágrima, meu ódio e meu amor parecem inócuos à suas fundações de pedra, às suas raízes viris e seus tormentos que me encantam. É tão fácil me deixar ludibriar por você, como se quando estivéssemos frente a frente eu perdesse minhas cores, você sugasse toda a vitalidade em minha tez.
E cada vez mais eu tenho a certeza de que adoro ser destruído.

Passa.

Tudo passa
O riso acaba
O verme come
O brilho cessa

Tudo acaba
As rugas chegam
As ruas findam
As mães se vão

Tudo morre
A luz se apaga
A mão que afaga
A lágrima confessa

Tudo termina
Os planos adolescentes
Os ardores no peito
Os amores de verão.